domingo, 25 de outubro de 2009

Prisão de Fora, Prisioneira de Dentro


Quisera eu agora lhe dizer um tudo
Arrancar esse mundo mudo em que você se veste
Lhe despir com qualquer palavra que preste
Só para ver tua alma nua

e depois amar-te linda e crua
na cama faminta...

Quisera eu agora despertar-lhe os seios
Fazer do corpo um instrumento da alma
Sentir tua pele vibrar na minha palma
E os seus olhos se abrirem de tanto prazer

...pois só assim poderás dormir em calma
e liberta de se.


Texto: Luian Damasceno Foto: Norma Pifano

domingo, 18 de outubro de 2009

Samba do Tempo do Amor


saiba tu que eu já não sei
se o amor é permanente
se ele vai viver na frente
ou se ele é brisa passageira
se ele graça companheira
ou se passa de repente
pois o amor às vezes mente
pra guardar o coração

se ele mal de solidão
se ele é um bem da saudade
ou se ele é simplesmente na verdade
uma eterna ilusão

pois o homem ama só
e por si só o homem se inflama
numa cama feito a chama
que se acende com o calor

mas que depois se apaga
e não lhe afaga do frio
e pra não viver vazio
o homem ama novamente.


Texto e Foto: Luian Damasceno

domingo, 4 de outubro de 2009

Dentes De Fumaça


O pensamento sem forma
Retorna ao relento
Me deixando atento
Ao que o vento me sopra

Sussurrando na noite
Gemidos estranhos
Tamanhos medidos
À métrica louca

Janelas se abrem
Olhos se fecham
Palavras não cabem
Na boca do louco

E de pouco a pouco
O mistério sorri
Com dentes de fumaça
Que fazem-me rir...

Texto e Foto: Luian Damasceno

domingo, 20 de setembro de 2009


passo por passo
passo por você
no compasso do passo
me disfarço em prazer
me despedaço em te ver
caminhar passo a passo
vestido ao vento
tempo de aço
laço desfeito
voando lento
e a saudade que mora
nesse firmamento
que em tudo é vento
ventania voraz
verbo mudo
mundo verso
que me traz
a vida!


“ anerom edaduas a ovel ós...
...anep a elav euq odut é ”


Texto e Foto: Luian Damasceno

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Palavra Chave



Certa vez, ainda quando cabia de baixo da saia de minha mãe, e minha vida se limitava ao mundo paralelo da bairro onde cresci, e que, ainda hoje, curiosamente,continua me sendo um mundo paralelo, andava pelas ruas observando as casas e imaginando como seriam os moradores que por ventura nelas morassem.

Às vezes, quando me punha a tal entretenimento e do portão saía algum morador, quase sempre me decepcionava. Sentia na alma a marreta da realidade batendo de frente ao meu muro de idealizações. Então a graça da brincadeira se perdia na minha frustração e eu voltava para casa com os olhos secos.

Ao chegar em casa, eu, ansioso para compartilhar minha dor com o primeiro que me viesse, também quase sempre me decepcionava. Pois, dependendo de quem fosse, certamente ouviria, "Mas que menino estranho!", ou ainda, "É mesmo?", portanto me restaria somente o silencio e a interiorização do fato caso não encontrasse nos hábeis ouvidos de minha avó o tão esperado consolo em que buscava me encontrar novamente. Ela, por sua vez, meiga e habituada a uma boa literatura, uma senhora de formação romântica, apenas me olhava com seus olhos de paz, que, após certo tempo, tornavam-se olhos de curiosidade.

E eu gostava de ser observado daquela maneira.

Era como se minhas palavras despertasem algo relativamente inteligente nos olhos de um outro, e isso, por si só, me satisfazia.

Depois, com o tempo e a experiência, aprendi a observar melhor as casas e a compreender de forma mais concreta os seus moradores. Aprendi que certas palavras fazem com que os seus respectivos apareçam ao portão. Aprendi que cada qual, na sua solidão, sente a fome de formas diferentes. Aprendi que assim como os olhos são as janelas da mente, os ouvidos lhe são as portas, e as palavras, as chaves para que nela um outro entre.


Texto e Foto: Luian Damasceno

domingo, 30 de agosto de 2009

Lateral


Entardeço, sem poder compartilhar as coisas boas do meu dia com você. Vivo apenas por querer viver, sem qualquer brilho no olhar. Sem saber onde vou chegar, ou se vamos encontrar, o tão esperado momento em que os corpos também se encontrem. Entardeço sem querer entardecer, com medo de o dia morrer, e só me restar de você, o silencio da noite, a solidão das estrelas.

Por isso caminho, sozinho, nas ruas desertas. Calado feito o mundo que me veste, feito o asfalto que me calça. Caminho com os olhos vazios na escuridão que me consome, no seu nome que me vem a boca, sem saber como vai você... e tão pouco sem compreender o por que de tudo isso... desse nosso compromisso escondido, desse amor destituído de nós dois.

Dessa forma entardeço, e permaneço entardecendo, morrendo a cada por do sol.


texto e foto: Luian Damasceno

domingo, 16 de agosto de 2009

Infancia


lá onde eu cresci
vi muita coisa que aprendi
vivi a vida feito o vento
de lá pra cá, daqui a lí
brincava na rua
e deixava minha mãe trabalhar
espiava a vizinha nua
e ouvia a minha vó cantar:

"Coração...
de papelão..."

Texto:Luian Damasceno Foto:João Damasceno

terça-feira, 11 de agosto de 2009

Quarto Vazio


Sente no teu seio quente o meu peito em frente ao infinito do teu corpo. Ouve essa palavra louca que em nossas bocas queima de paixão. Deixe que os corpos conversem a conversa muda das almas caladas, e que as almas que de tão caladas adormeçam findas na rosa estendida.

Mente descaradamente assim como eu minto pra sobreviver.
Minto pro peito dormente que agora sente a falta de você.


texto e foto: Luian Damasceno

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Sobre Sonhos e Nuvens


Em certa tarde de domingo, pus-me a colher memórias nos olhos de minha amada. Resgatei ao presente as estrelas cadentes daquilo que um dia eu vivi. E me vi criança, deitado na grama, a observar as nuvens que se desenhavam de diversas formas na plenitude azul do céu. Nesse mesmo céu que hoje suspende o meu peito às vozes do verso. Esse mesmo céu, desse mesmo azul, dono de uma intocável amplidão que reflete os meus sonhos nos espelhos dos meus olhos. E que naquela tarde, fez sentir minh’alma se afogando nos olhos de minha amada, assim como o meu eu criança se afogava no mar de nuvens que se erguia sobre os seus olhos.

Vi também que os meus sonhos, assim como as nuvens, assumiam outras formas com o passar do tempo. Se ontem via-se caravelas, hoje pode-se ver barquinhos de papel, desde que naveguem pela calmaria serena da paz de espírito. Deixar que a mão escorra as lagrimas do mar de meu peito, consiste a base da minha poesia. A mesma poesia que quando criança assistia no céu, nas nuvens, nas horas do dia. E que hoje constrói cidades no intimo do meu eu, ilumina minhas flores no breu, com a luz que se emana dos olhos me minha amada. E que recai em versos que se escrevem no peito do dormente do poeta entorpecido.


Texto: Luian Damasceno Foto: Norma Pifano

segunda-feira, 27 de julho de 2009

Sina de Quem Ama


A morte,
arronbou a porta do meu coração
trouxe pra minha vida
quem eu mais temia chegar
O medo.

(...)

No velorio preto e branco
só o vermelho das rosas se notava
na tristeza do seu pranto
a saudade infinita que ficava

E eu me estacionava nos seus olhos
que de tristeza se encharcavam
e pela perda, me alertavam

Que um dia, sem mais nem menos
as pessoas vão embora (sina de quem ama)
e aprender abrir a porta é fundamental...


texto e foto: Luian Damasceno

domingo, 19 de julho de 2009

Silencioso Desejo...




Hoje eu quero o silêncio. A preguiça, a despreocupação para com o dever. Quero poder crer que tudo esta bem. Que o mundo não esta acabando, que o meu dinheiro não esta acabando, que a vida não esta só começando. Quero poder crer que amar é fácil, que morrer é difícil. Crer que a solidão me faz bem.

Por isso quero o silêncio; tenho que silenciar tudo o que me impeça de crer. Por isso quero a preguiça; para que eu consiga me manter em silêncio sem preocupar-me com a vida. Quero gozar deitado, olhando pro teto. Quer deitar-me no teto, olhando pro chão.

Então nunca mais ouviria canções de domingo, nem abriria a geladeira a fim de pensar. Me entregaria ao tédio todas as noites, não escreveria aquela estória, nem desejaria ter o que eu não posso.


texto e foto: Luian Damasceno


domingo, 12 de julho de 2009

Rumo ao Nada


Espremido entre os prédios
na multidão dos remédios
o pranto sofrido
o doente
o asfalto curtido
e o descrente
que caminha sozinho
à meia luz
de bermuda xadrez e capus
se conduz ao abismo
do buteco
pelo eco perdido
da cidade.

texto e foto: Luian Damasceno