domingo, 20 de setembro de 2009


passo por passo
passo por você
no compasso do passo
me disfarço em prazer
me despedaço em te ver
caminhar passo a passo
vestido ao vento
tempo de aço
laço desfeito
voando lento
e a saudade que mora
nesse firmamento
que em tudo é vento
ventania voraz
verbo mudo
mundo verso
que me traz
a vida!


“ anerom edaduas a ovel ós...
...anep a elav euq odut é ”


Texto e Foto: Luian Damasceno

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Palavra Chave



Certa vez, ainda quando cabia de baixo da saia de minha mãe, e minha vida se limitava ao mundo paralelo da bairro onde cresci, e que, ainda hoje, curiosamente,continua me sendo um mundo paralelo, andava pelas ruas observando as casas e imaginando como seriam os moradores que por ventura nelas morassem.

Às vezes, quando me punha a tal entretenimento e do portão saía algum morador, quase sempre me decepcionava. Sentia na alma a marreta da realidade batendo de frente ao meu muro de idealizações. Então a graça da brincadeira se perdia na minha frustração e eu voltava para casa com os olhos secos.

Ao chegar em casa, eu, ansioso para compartilhar minha dor com o primeiro que me viesse, também quase sempre me decepcionava. Pois, dependendo de quem fosse, certamente ouviria, "Mas que menino estranho!", ou ainda, "É mesmo?", portanto me restaria somente o silencio e a interiorização do fato caso não encontrasse nos hábeis ouvidos de minha avó o tão esperado consolo em que buscava me encontrar novamente. Ela, por sua vez, meiga e habituada a uma boa literatura, uma senhora de formação romântica, apenas me olhava com seus olhos de paz, que, após certo tempo, tornavam-se olhos de curiosidade.

E eu gostava de ser observado daquela maneira.

Era como se minhas palavras despertasem algo relativamente inteligente nos olhos de um outro, e isso, por si só, me satisfazia.

Depois, com o tempo e a experiência, aprendi a observar melhor as casas e a compreender de forma mais concreta os seus moradores. Aprendi que certas palavras fazem com que os seus respectivos apareçam ao portão. Aprendi que cada qual, na sua solidão, sente a fome de formas diferentes. Aprendi que assim como os olhos são as janelas da mente, os ouvidos lhe são as portas, e as palavras, as chaves para que nela um outro entre.


Texto e Foto: Luian Damasceno